Antifragilidade no agro: o que é ser anti-frágil?

Nov 17 / Luiz Tangari

Quem me conhece um pouquinho mais sabe que eu sou fã do Taleb. O hábito humano de ficar tentando modelar sistemas para entender o mundo, muitas vezes esconde o fato que a gente, simplesmente, tem pouco controle sobre as coisas.

No livro anti-frágil, o meu preferido do autor, ele explica que, em um mundo de mudanças bruscas e imprevisíveis as pessoas, os processos, as empresas e setores inteiros podem ser frágeis, robustos ou anti-frágeis.

Enquanto os frágeis sofrem muito (ou morrem) com as mudanças, os robustos resistem melhor. Os anti-frágeis, por outro lado, são beneficiados pelas mudanças.

É um conceito contra-intuitivo.

Se você olhar o posicionamento três posicionamentos de produtores para esta safra:

● O primeiro altamente alavancado, ampliou a área arrendada, pagando juros com pouca liquidez e rodando 100% da safra com o preço da soja aberto.

● O segundo quitou parte do endividamento, empurrou parte dos vencimentos para 2027 e travou o preço da soja suficiente para pagar todo o seu custeio.

● O terceiro além de reduzir o endividamento, tem uma linha de crédito disponível não usada com taxas razoáveis para ter dinheiro na mão para ir atrás das barganhas, pagando a vista, nos repiques e deixou o preço da soja em aberto (para participar da alta) mas comprou opções da B3 que o protegem, caso a soja cair ainda mais de preços. Eventualmente tem até uma liquidez para comprar terra barata em um momento de aperto dos vizinhos.

No cenário ideal, o primeiro produtor provavelmente vai ganhar mais. Mais faturamento pela área adicional e a soja com preço atual permitiria quitar todas as faturas em dia. O segundo está mais preparado para um ano difícil, mas ganha menos quando há céu de brigadeiro. O terceiro, estranhamente, tende a ir melhor nos anos difíceis. Ele otimizou para o imprevisível.

Parece que o ambiente altamente volátil tende a criar antifragilidade. Taleb até aborda isso no livro. Conheço dezenas de produtores brasil afora que são extremamente anti-frágeis e, tenho certeza, nunca leram sobre isso.

O posicionamento anti-frágil explica um pouco alguns comportamentos que parecem, à primeira vista, não fazer sentido, e que a gente vê por aí toda hora.

Nem precisa falar que todo o setor compartilha o mesmo comportamento. Poderia dar exemplos bastante similares para revendas e indústrias.

Finalmente, vendo toda pressão que o setor está sentindo esse ano, e as empresas ainda majoritariamente otimistas com o futuro.

Acho que, por isso, vamos atravessar essa soja de 120 reais o saco com poucas baixas. E, as baixas que tiverem, vão ser, na maioria, de empresas que entendem que o mundo, em geral, não obedece a modelagem da planilha de excel.